segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Como conhecemos produções tão antigas?

Quando falamos sobre cantigas milenares que antecedem tranquilamente muitas crenças e até mesmo religiões, uma questão que pondera facilmente é: como temos acesso à registros tão antigos que se ancoravam em uma tradição oral? O que nos possibilitou conhecer esses escritos datados de uma época tão remota? 

Ao trazer para o âmbito do Trovadorismo Medieval, vale destacar uma descrição feita por Massaud Moisés, hoje professor aposentado da Universidade de São Paulo (USP),  acerca do que eram as consideradas cantigas: "durante a Idade Média, a cantiga designava a forma poética vernácula (...) de onde pode chamar-se ainda de cantar ou canção. Fundia a letra e o som; o poema, coordenado à pauta musical, destinava-se ao canto e à instrumentação". Assim, ao se analisar a estruturação aliada à forma com a qual era disseminada, torna-se evidente que a permanência e a conservação de parte dessas obras estão estritamente relacionadas à coalizão música e poesia. As cantigas, estruturadas a partir dessa junção, eram mais facilmente memorizadas não apenas pelos trovadores, jograis e segréis (cantores responsáveis pela circulação das cantigas), mas, também, pelos ouvintes.

Ademais, é válido analisar que, a partir do que foi abordado, essas produções literárias realizavam, portanto, duas funções clássicas da Literatura: docere (instruir/ensinar) e delectare (deleitar/causar emoção). Destarte, configuram-se com a função de transmitir valores, conceitos e ideias (sendo importante lembrar que esses eram, em sua maioria, produzidos pela elite) e de fazê-los se conservar na teia social. 

Ilustração da forma como se compartilhava
as cantigas na época Medieval

Unindo todos esses fatores analisados, chega-se à resposta do questionamento inicial desse texto no que diz respeito às cantigas medievais. A transmissão a partir da música foi um ponto crucial para que hoje possamos dizer que conhecemos cantigas ainda distintas entre si, mas igualmente belas e valiosas. 


Referências: 
MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários. São Paulo: Cultrix, 1997. 
<http://fcsh.unl.pt/media/reportagens/cantigas-medievais-galego-portuguesas> Acesso em: 07 set 2016
*Aulas ministradas pelo professor Fernando Fiorese na disciplina "Estudos Literários II" na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)

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