segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Cantiga de escárnio e maldizer

As cantigas de escárnio e maldizer foram censuradas por muito tempo — só apenas a partir da década de 50 que começaram a serem estudadas.

O foco dessas cantigas são as críticas, tendo destinos variados: desde pessoas comuns até pessoas, grupos sociais e políticos importantes, como os nobres. Mesmo que muitos não percebam, ou até mesmo não saibam, há importantes diferenças entre os dois tipos de cantigas.

A cantiga de escárnio é chamada de indireta, visto que não aparece o nome da pessoa criticada explicitamente. Tem um teor mais irônico e sarcástico. Nesse tipo de cantiga, o trovador faz críticas a alguma pessoa através de palavras de duplo sentido, metáforas e ambiguidades. Através de um processo denominado pelos trovadores de equívoco. 

Já a cantiga de maldizer é chamada de direta, pois até mesmo o nome da pessoa criticada pode aparecer, um apelido ou algo que a identifique. Seu tom é mais agressivo, muitas vezes contendo até palavras de baixo calão: assim autor expressa seu ódio pelo ser ou grupo criticado.

Muitos confundem cantigas de escárnio e maldizer com sátira, mas dizer que é a mesma coisa é um erro. Sátiras causam risos e cantigas de escárnio e maldizer nem sempre o causam.


Cantiga de maldizer

"Marinha, o teu folgar
tenho eu por desacertado,
e ando maravilhado
de te não ver rebentar;
pois tapo com esta minha
boca, a tua boca, Marinha;
e com este nariz meu,
tapo eu, Marinha, o teu;

com as mãos tapo as orelhas,
os olhos e as sobrancelhas,
tapo-te ao primeiro sono;
com a minha piça o teu cono;
e como o não faz nenhum,
com os colhões te tapo o cu.
E não rebentas, Marinha?"
(Afonso Eanes do Coton)


Cantiga de escárnio

"Ai, dona fea, fostes-vos queixar
que vos nunca louv[o] em meu cantar;
mais ora quero fazer um cantar
em que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!
Dona fea, se Deus mi pardom,
pois avedes [a]tam gram coraçom
que vos eu loe, em esta razom
vos quero ja loar toda via;
e vedes qual sera a loaçom:
dona fea, velha e sandia!
Dona fea, nunca vos eu loei
em meu trobar, pero muito trobei;
mais ora ja um bom cantrar farei,
em que vos loarei toda via;
e direi-vos como vos loarei:
dona fea, velha e sandia!"
(João Garcia de Guilhade)

Referências:
*Aulas ministradas pelo professor Fernando Fiorese na matéria Estudos Literários II, na UFJF
<http://cseabra.utopia.com.br/poesia/poesias/0012.html> Acesso em: 26 set. 2016
<http://cantigas.fcsh.unl.pt> Acesso em: 26 set. 2016

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