Especificamente nas cantigas, há uma voz do feminino que se mostra por meio um eu lírico que canta suas tristezas, sua solidão e suas emoções em relação ao amigo. Entretanto, a voz autoral pertence ao trovador, cujo imaginário se ramifica pela representação artística e pelo fingimento poético. Se na cantiga de amigo a voz autoral é masculina, deve haver, em razão da impossibilidade de uma absoluta transformação do eu no alter do outro, um comprometimento da visão do trovador acerca da mulher, relativamente às suas prerrogativas ideológicas e políticas. Sendo as coisas mimeticamente assim representadas, pensamos que alguma reflexão deve ser dedicada ao fato de as imagens ou topoi das cantigas de amigo (natureza, espaço, descrição física da amiga), cunhadas pelo trovador, poderem possuir um tratamento estilístico e retórico que se compromete com a visão androcêntrica e, portanto, possivelmente preconceituosa em termos misóginos.
Além disso, ao considerar a característica
dualidade da mulher boa (virtuosa) e má
(viciosa) no pensamento e na cultura medievais
de herança patrística, é de se cogitar
que as idealizações das cantigas de amor
tendem para um retrato virginal e mariano
da mulher. Ao passo que as cantigas de amigo,
ainda seguindo o rescaldo negativo do
platonismo, tendem a retratá-la mais realisticamente,
portanto, de forma mais carnal e
sensorializada: a sua face negativa enquanto
corpo sinonimizado ao vício, à Eva propriamente
dita.
Desse modo, as cantigas de amigo, interesse principal desta postagem, parecem representar mais fielmente esse segundo termo da dualidade. Já que esse tipo de cantiga traz elementos que permitem o trato da relação analógica entre concreto e profano, um exame mais detalhado dessa problemática da dualidade merece ser feito.
Referências:
NUNES, José Joaquim. Cantigas d’amigo dos trovadores galego-portugueses. Lisboa: Centro do Livro Brasileiro, 1973. 3 v.
<http://www.revistas2.uepg.br/index.php/uniletras/article/viewFile/4620/3163> Acesso em: 18 set. 2016
Desse modo, as cantigas de amigo, interesse principal desta postagem, parecem representar mais fielmente esse segundo termo da dualidade. Já que esse tipo de cantiga traz elementos que permitem o trato da relação analógica entre concreto e profano, um exame mais detalhado dessa problemática da dualidade merece ser feito.
Referências:
NUNES, José Joaquim. Cantigas d’amigo dos trovadores galego-portugueses. Lisboa: Centro do Livro Brasileiro, 1973. 3 v.
<http://www.revistas2.uepg.br/index.php/uniletras/article/viewFile/4620/3163> Acesso em: 18 set. 2016
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