Cantar a realidade feminina – mesmo que sob a voz masculina – é a essência das cantigas de amigo: “Se saberes novas do meu amado,/ aquel que mentiu do que mi á jurado?/ ai, Deus, e u é?” (DOM DINIS, 1999, p. 155) e “Onde andará Nicanor?/ Tinha nó de marinheiro/ Quando amarrava um amor” – da música Nicanor –, de Chico Buarque, representam, em espaços temporais distintos, o cunho da afetividade, do amor sofrido, do querer o outro que está ausente. Querer o outro/ amado é um objeto de desejo quase intangível: a saudade massacra o coração, o vazio domina a alma e o sentimento aflora no peito a dor da ausência. O sofrimento da solidão e a busca pela completude de si mesmo atingem os céus: Deus é evocado para curar esse vazio, trazer o amado e confortar o ente saudoso. Dom Dinis quer “novas” do “amado” e Chico quer notícias de “Nicanor”, que “amarrava um amor”. Sentimentos aflorados e musicados nas cantigas de amigo – do Trovadorismo à MPB.
Este é um outro exemplo que evidencia a ponte existente entre as produções antigas medievais e a contemporaneidade, visto entre a cantiga de Dom Dinis e a música de Caetano Veloso — forte nome na MPB.
Referências:
<http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/producoes_pde/artigo_nelvi_malokowsky.pdf > Acesso em: 23 set. 2016.
<http://www.undb.edu.br/publicacoes/arquivos/14_-_a_residualidade_literaria_das_cantigas_trovadorescas_na_musica_popular_brasileira.pdf> Acesso em: 23 de Setembro de 2016.
MOISÉS, Massaud. A Literatura Portuguesa através dos textos. 30. ed. São Paulo: Cultrix, 2006.
VELOSO, Caetano. Letras de músicas. Disponível em: <letras.terra.com.br/caetanoveloso/>. Acesso em: 23 set. 2016.
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